domingo, 16 de outubro de 2011

Outra Opção Tática


Há tempos isso vem acontecendo, mas contra o Corinthians ficou mais claro – e também, mais relevante – diagnosticar e trazer ao debate no blog Tabuleiro. Na vitória de 2 a 0 do Botafogo no Pacaembu, quarta-feira, Loco Abreu orquestrou uma transição ofensiva ensaiada colocando-se em “falso impedimento”.
No 4-2-3-1 do Botafogo, quando a equipe tem a bola Loco Abreu às vezes coloca-se em flagrante impedimento. Enquanto os meias trocam passes, o centroavante fica muitos passos à frente, adiantado na relação com a linha defensiva, simulando desatenção ao lance. E ali, naquela zona morta do campo, impedido, os zagueiros o ignoram.
Mas os organizadores da equipe – Renato e Elkeson (contra o Corinthians, foi Felipe Menezes) não lançam Loco Abreu. A transição ofensiva se dá com um passe longo para a beirada do campo. Ou na esquerda com Maicosuel, ou na direita com Herrera (contra o Corinthians, foi Elkeson). Os “wingers” botafoguenses são velozes e ágeis, posicionam-se sobre a linha defensiva, e dali partem com rapidez para receber o lançamento em condição legal, e às costas da linha defensiva.
Neste momento – meias-extremos com campo livre à frente, e bola dominada – Loco Abreu tem sua situação legalizada. Afinal, agora o parâmetro não é mais a linha defensiva, e sim a linha da bola. Assim que Maicossuel/Herrera/Elkesson conduzem a bola em velocidade pelo lado, Loco Abreu está apto a receber o cruzamento, e em grande vantagem na comparação com os zagueiros que se aproximam: ele está de frente para o gol, para onde quer levar a bola, enquanto os zagueiros estão correndo em sua direção, com o corpo ao contrário do sentido correto para afastar.
Este movimento já era comum nas bolas paradas – houve um gol mal anulado de Marcelo Mattos aos 4 do primeiro tempo com Loco Abreu em óbvio impedimento, no centro, mas cruzamento realizado para o lado. Mas o curioso é ver a jogada do “falso impedimento” de Abreu acontecer também com bola rolando.
Loco Abreu, entretanto, não passa o jogo inteiro “na pescaria”. Ele alterna este posicionamento “fora de jogo”, esta armadilha para induzir os zagueiros a subir a linha, e abrir consequente espaço ao avanço dos wingers, com um grande recuo – principalmente na bola parada defensiva. Em disparada, quando a bola é recuperada, o uruguaio organiza a transição ofensiva correndo nos espaços vazios do campo. Desta forma ele marcou um gol contra o Corinthians, e fez a assistência para Lucas marcar sobre o Fluminense – lembro apenas destes dois lances, mas provavelmente outros ocorreram – ambos em escanteios para o adversário.
É interessante perceber como Caio Júnior criou um repertório mais elaborado para aproveitar a inteligência tática e o comprometimento de Loco Abreu. Antes, o Botafogo resumia-se à ligação direta para Loco Abreu escorar - como no antigo futebol inglês, reproduzido no início do ano pelo Tottenham com Crouch escorando para Van der Vaart. Agora, a bola não procura mais Loco Abreu no lançamento longo.
Se ele é centroavante, e artilheiro, Caio Júnior não faz dele um simples pivô para os companheiros, e sim cria mecanismos para o time colocá-lo em boas condições de conclusão. Ao invés de receber a ligação direta para escorar, Loco Abreu atrai os zagueiros para uma armadilha, abre espaço para os meias, e recebe deles a assistência. Inteligente.

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